Avulsões apofisárias na bacia e fémur proximal no atleta jovem
Introdução
Definição
A avulsão consiste no arrancamento de parte de um osso, em resultado de uma força de tração súbita, num local de inserção de uma estrutura tendinosa ou ligamentar. Sendo, para todos os efeitos, uma fractura óssea, diferencia-se das formas convencionais que são normalmente provocadas por um traumatismo externo directo, com forças de compressão e não de tração. Segundo o local da lesão, podem originar:
- Avulsão da crista ilíaca,
- Avulsão da espinha ilíaca ântero-superior
- Avulsão da espinha ilíaca ântero-inferior
- Avulsão da tuberosidade isquiática
- Avulsão do pequeno trocânter
Epidemiologia
A incidência destas lesões prende-se mais com o nível de actividade física em determinada idade do que com qualquer alteração patológica da cartilagem de crescimento.
Observadas na população masculina jovem (sobretudo nos adolescentes) que pratica desportos vigorosos, são situações raras na população em geral. Talvez devido a essa raridade e ao habitual bom prognóstico desta patologia, mesmo quando não diagnosticada ou não tratada, tem sido de alguma forma negligenciada na literatura ortopédica.
História Clínica
As avulsões das apófises pélvicas são tipicamente lesões de atletas adolescentes [2,3,5,8,9,11,13,14,16,18,19] do sexo masculino [2,3,8,9,14] praticantes de desportos vigorosos [1,2,3,8,9,11,13,15,18,21].
Podem resultar de traumatismos crónicos de tracção durante a prática desportiva [13,19] ou de um episódio traumático único por contracção muscular súbita, desencadeando um quadro sintomatológico mais exuberante [9,19]. Apesar de alguns autores sugerirem a sua relação com eventual patologia da cartilagem de crescimento [6,7] este facto não está demonstrado e a incidência relacionar-se-á mais com o nível de actividade física em determinada idade do que com qualquer alteração patológica da cartilagem de conjugação.
O mecanismo de lesão é o mesmo que provoca lesões músculo-tendinosas no atleta adulto [9,16], nomeadamente roturas musculares durante contracção súbita e violenta.
As avulsões pélvicas são lesões consideradas raras, mas, no desportista desta faixa etária [1,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14,15,17,18,19,21], são relativamente frequentes, principalmente as avulsões da EIAS e EIAI já que as restantes são verdadeiras raridades.
Com o aparecimento dos núcleos de ossificação apofisários, alguns anos antes do fim do crescimento, a placa cartilaginosa torna-se extremamente vulnerável a traumatismos [4], principalmente quando de uma contracção brusca do músculo inserido na respectiva apófise. Esta fragilidade predispõe, os atletas praticantes de modalidades com forte componente físico dos membros inferiores e massas musculares desenvolvidas, ao aparecimento de apofisites e avulsões das apófises pélvicas.
Quando a avulsão ocorre antes do aparecimento do núcleo de ossificação secundário a lesão não é radiologicamente evidenciável senão várias semanas mais tarde, altura em que se visualiza o calo ósseo, e a instituição de um tratamento adequado está dependente apenas de um precoce e correcto diagnóstico clínico [16,19].
Devido à espessura perióstica, as diastases não são habitualmente significativas mas os achados radiológicos tardios podem ser confundidos com uma lesão tumoral (Figura 5) ou infecciosa [16,19].
A maioria dos autores recomenda o tratamento conservador com excelentes resultados funcionais, retomando o atleta o seu nível competitivo pré-lesional, mas, em situações excepcionais, com grandes diastases ou com sequelas, pode-se equacionar uma solução cirúrgica.
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